Thursday, December 15, 2005

Nó na garganta

Estou preocupado com alguns colegas tão politicamente enganjados, principalmente os estudantes universitários e militantes do PSol e PSTU.

Chegaram a ficar roucos de tanto gritar: Fora FMI!

O que vão gritar agora?

Wednesday, December 14, 2005

Dívida

Bem dizem os antigos que "papel aceita tudo". Significam que pode-se escrever qualquer besteira numa folha de papel, e nada será rejeitado. Talvez um ou outro leitor vá perceber os absurdos ali escritos, mas a verdade é que muitas vezes tomamos o que escrito por válido, e engolimos muita besteira.

Ontem fiquei realmente satisfeito ao ver as notícias sobre o pagamento feito pelo Brasil ao FMI, que quitava nossos débitos com essa instituição, e ainda nos poupa quase um bilhão de dólares que seriam gastos em juros. Hoje fico estarrecido com a enquete no JB: “O Brasil faz bem em pagar a dívida?”. No estadão (jornalzinho medíocre esse...) somente críticas, como de sempre. Também, que se pode esperar de um jornal que sequer consegue escrever em bom português? A cada três reportagens há um parágrafo inteiramente incompreensível. Acho que nunca revisam seus textos... se revisassem, certamente removeriam mais de dois terços dos artigos do ar, erros de concepção.

Nas Minas Gerais aprendemos que o homem trabalha primeiramente por suas dívidas. Tem até a expressão: “Nem ligo, não devo nada a ninguém” Curiosamente essa está caindo muito em desuso nesses últimos tempos... Por essas e outras me senti muito feliz ao ver estampada na capa do Jornal do Brasil a notícia: “Lula zera a dívida com FMI”.

Em toda a minha vida de brasileiro de carterinha, sempre ouvi noticias diferentes em relação à dívida externa, sempre falando de aumentos, elevação dos juros, rolagem, novos empréstimos. De tanto ver o Brasil se endividando e a televisão fazendo propaganda disso ficava mesmo me perguntando se teríamos que devolver esse dinheiro, que parecia tão fácil.

A resposta era: sim, dívida é dívida. Mas só agora o conceito é respeitado. Acredito que toda a nação brasileira era influenciada por essa orgia financiera, de, no final do mandato, pegar mais dinheiro, financiar aumento do salário mínimo, cestas básicas, vale-gás e afins, para ajudar o partido na eleição. O governo seguinte (talvez reeleito) simplesmente rolava a dívida para o próximo e assim por diante. A bola de neve tinha que ser contida, e é isso que estamos fazendo, e me sinto mais leve. Se nem o governo paga suas dívidas, por que eu pagaria?

Meu pai costumava comentar sobre a grande virada na vida do indivíduo quando ele começa a pagar suas dívidas. Não importa se paga tudo de uma vez ou um real por mês, o que realmente importa é quando se atinge o fundo e começa-se a subir. O Brasil chegou nesse ponto, e a subida é brusca: 15 bilhões de dólares numa raquetada só. Imagino os políticos profissionais se perguntando o porquê disso. Realmente não faz sentido nenhum: o governo sofrendo pressões de todos os lados, popularidade caindo, e o sapo barbudo, ou o nordestino do pau-de-arara, resolve pagar dívida! Desde quando pagamento de dívida aumenta IBOPE? Pois é, esses acabaram por acreditar na história que eles mesmo inventaram, de que esse governo é igual aos outros. Ledo engano, essa é a melhor administração que esse país já teve, é uma pena que somente 43% da população consiga ver isso...

Fico imaginando o impacto que isso tem sobre os garotos que estarão assistindo do Jornal Nacional essa noite. Entenderão que não se pode gastar mais do que se tem, perceberão que não se faz ceia com dinheiro alheio, coisas que eu tive que aprender em casa, porque se dependesse do exemplo de meus governantes, estaria cada vez mais endividado...

A palavra ensina, somente o espírito vivifica.

Tuesday, December 13, 2005

Cem!

Após mais de um ano esse diário de um jeca perdido em Noviórque alcança cem visitantes. Impressionante!

Bom, que seja, não escrevo aqui para entrar para o livro dos recordes mesmo. Na verdade, nem sei porque escrevo aqui. Ou melhor, sei porque, escrevo porque gosto, só não sei porque gosto. Aliás, a maioria das coisas que faço têm a mesma razão: faço porque gosto, me satisfaz. Gosto de microbiologia, gosto de endireitar pilhas de artigos, gosto de ver os eventos acontecerem, gosto de ter que pensar no meu horário, gosto de viver no limite.

Por alguma razão, se me perguntam porque faço isso ou aquilo, acabo dizendo que é pelo bem da raça humana, pela organização do laboratório, para as vacas produzirem mais, para os laticínios poluírem menos... Não minto quando digo isso, mas a verdade é que nunca teria vindo para esse cafundó gelado simplesmente por um canudo a ser colocado em baixo do braço. Também não estaria perdendo os cabelos para conseguir entender a seqüência de eventos da iniciação da replicação em E. coli, se não fosse por isso: eu gosto.

Há coisas que eu não gosto, e as provas certamente estão no topo da lista. Quinta-feira o mané do Roberts vai me perguntar a função de RecA, e eu vou responder a função de CreA, e vou levar zero. Ele vai me dar zero porque dei a resposta errada, e eu vou ficar tentando convencer ao mundo que foi ele quem fez a pergunta errada.

Aliás, por tocar no tema do aprendizado, recebi por e-mail uma reportagem estarrecedora. Trata-se de uma pesquisa feita na Universidade de Yale, em New Haven, Connecticut. Primeiro, um grupo de escoceses estudou o aprendizado dos chimpanzés. Pois é, eles aprendem. Mostrou-se comida aos macaquinhos de imitação, então colocou-se o alimento em uma caixa fechada por uma alavanca. Embora para abrir a porta bastasse simplesmente mover a alavanca, os cientistas abriam a caixa em frente aos chimpanzés usando vários passos desnecessários, como sacudir, bater, dar três pulinhos. Quando a caixa era revestida de material fosco, os chimpanzés, ao terem acesso à caixa, iriam abrir a caixa usando a mesma tática besta usada pelos cientistas, incluindo duas ave-marias voltados para Meca. Surpreendentemente, se a caixa era transparente, os danados conseguiam ver a alavanca travando a porta, entendiam o mecanismo de abertura, davam uma banana para Nossa Senhora e iam direto destravar a porta!

Impressionante não? Pois é, esse foi o experimento feito na Escócia, ainda não cheguei a New Haven. Um estudante de doutorado em psicologia (Derek Lyons, vamos dar-lhe os créditos) resolveu fazer o mesmo tipo de experimento com outra espécie de macacos, que falam, e pensam, logo poluem: os Homo sapiens. Seu primeiro teste foi já bastante assustador: as crianças não aprendiam a abrir a porta quando lhes eram dadas as caixas transparentes! Imaginem, continuavam batendo na caixa, dando três pulinhos, fazendo oferendas a Iemanjá, mesmo vendo a maldita alavanca!

Provavelmente, depois de mostrar esses resultados a seu orientador, este finalmente mostrou algum interesse pelo projeto e então sugeriu alguns novos experimentos. Certo da superioridade dos humanos, lançou a hipótese de que as crianças estavam somente se distraindo com a brincadeira de sacudir e bater na caixa. Essa falhou, pois se não havia brinquedinhos dentro das caixas as crianças nem ligavam. Para sua infelicidade, tentou outra hipótese, então: a criança simplesmente não podia, ainda, entender o mecanismo de funcionamento da porta. Ora, isso faz muito sentido, uma vez que todos nós sabemos que o cérebro humano, assim como o organismo humano, por sua complexidade e superior formatação, demora mais que os outros animais para se desenvolver.

Para provar a hipótese, bastaria mostrar que uma criança que nunca tinha sido mostrada à caixa transparente, não conseguiria abri-la. Ponto para os humanos (ufa!): quando lhes foram mostradas as caixas transparentes, a criançada não titubeou, abriu a caixa e pegou a banana, digo, o brinquedo que havia dentro da caixa.

Infelizmente, hora de analisar os resultados: os jovens seres humanos imitavam os cientistas com o ritual de abertura das caixas, embora pudessem abri-las de maneira muito mais simples! Para piorar a situação, até os filhotes de chimpanzés se saíram melhor que isso: ponto para os peludos!

Amanhã será a prova de bioengenharia. Não é permitido abrir a alavanca, nem pense em sugerir uma nova forma de se abrir a porta. Tentei fazer isso nos Relatórios e me dei mal. Ninguém está interessado em formar engenheiros, estão mesmo interessados em adestrar estudantes. E é isso que estamos formando: estudantinhos de imitação.

E você diz: "Mas você disse que gostava!". Ora, e como! Cada experimento é um milagre (especialmente quando dá certo). A oportunidade de observar a obra divina mais de perto, de ver um novo detalhe e imaginar como essas bactérias são espertas, como a criação é completa... como não gostar? Mas "experiência é farol para trás". Descobrir a roda não intitula ninguém a ensinar como desenvolver um motor. Deixe as crianças em paz. Deixe o rio correr para o mar.