Sunday, November 20, 2005

Dedo

Putz, martelei meu dedo!!!

Parece brincadeira, mas dói pá daná. Sinceramente, pensei que fosse chorar. Aliás, não sei quando é que acontece de desaprendermos a chorar de dor. É como se tivesse perdido uma chave, ou a carteira: perdi a vontade de chorar de dor, ou sei lá o quê.

Minhas reações são diferentes agora. O primeiro instante é sempre o mesmo "puta que pariu" meio entre os dentes, meio que segurando o ar na garganta. Aí depois dou uma olhada no tamanho do estrago: "Deus do céu!".

A partir daí vem aquele sentimento que eu lembro ser o desencadeador do choro. Aliás, lembrei disso hoje. Não sei como descrevê-lo. É como se houvesse uma grande pressão na base do pescoço, tão forte que um gosto seco vem à boca, e então as lágrimas começam a saltar pelas órbitas. Então, o choro.

Mas que é o choro afinal? Parece ser uma tentativa de aliviar a dor, talvez seja uma forma que sentir a dor fora do local do ferimento, mas, talvez mesmo seja a voz do espírito, revoltado por estar incapacitado de controlar o corpo.

Meu espírito se cala, já se contentou com sua falta de controle sobre as dores físicas. Não se conforma em não conseguir controlar minhas emoções, entretanto, e parece que está se tornando cada vez mais fracassado nessa área. Hoje em dia não posso nem contar a história do "Oi Zé", pois meu espírito cisma de reclamar. Mas evito, para evitar a culpa e o sentimento de que está tudo errado. Não tem nada errado, estar errado me parece tão normal que já nem é errado mais...

Saturday, November 12, 2005

Hipocrisia

Essa semana o Brasil teve o privilégio de ser visitado pelo presidente dos EUA. Foi recebido até bem: fora algumas manifestações de estudantes e militantes do PSTU. Dentre essas a que mais me chamou a atenção foi a ocorrida no Rio de Janeiro, em frente à Embaixada Estadunidense. Os manifestantes reclamavam da presença de George W. Bush, o "senhor da guerra", "mensageiro da violência".

Certamente poucos conseguiram ouvir as palavras de paz quando a guerra entre os manifestantes e a polícia começou: bombas de efeito moral foram usadas para proteger as vidraças da Embaixada de atos de vandalismo.

Fora isso, nada de mais. Nada que se comparasse ao furor dos Argentinos, liderados por seu ídolo cocainômalo. Algum manifestante no Rio chegou a cobrar de Pelé uma postura mais politizada, agir de acordo com o "exemplo do craque Maradona". Ora, vejam só, o mundo dá voltas. Aliás, há alguns que realmente são capazes de fazer o mundo dar uma volta ao seu bel prazer.

Outro exemplo disso, vindo de outro líder de um partido igualmente desesperado por alcançar algum sucesso a qualquer custo, o PSDB. Ao menos o PSDB já esteve no poder, não esqueçamos disso. Durante o seu tempo no poder esse partido privatizou o país inteiro, não fez nada com o dinheiro, distribuiu bilhões a bancos privados falidos, quadruplicou a dívida externa e, de quebra, deixou o risco-Brasil em patamares de quatro dígitos; não nos esqueçamos disso também.

Mas voltando ao exemplo desse poço de sabedoria, a sua ex-excelência Fernando Henrique Cardoso Sayad. Há poucos meses li uma reportagem estarrecedora sobre essa figura nacional no Jornal FInancial Times. FHC é o cabeça de um grupo que foi a Washington pedir ao tio Bush uma "maior interferência dos EUA na América Latina", visando reduzir as crescentes ameaças ao processo democrático abaixo da linha do Equador (que, na América, passa bem em cima do Rio Grande). Foi mais além, criticando diretamente o Presidente da Venezuela, seu (do FHC) amigo pessoal.

Ainda, entretanto, não havíamos chegado à sublimação do exemplo de caráter na política PSDBrasileira: semana passada, após assistir a entrevista de Lula para o programa Roda Viva , FHC ficou irritado, e disse, com orgulho, que seu governo foi sim investigado! Ora, que absurdo dizer o contrário! Parece que o povo esqueceu as trapaças do governo FHC! Ele mesmo refrescou nossa memória, lembrando do escândalo do Fonte Sindam. Reservou-se de detalhes cor-de-rosa, mas aproveitou para lembrar que sob seu governo foi privatizada grande parte das empresas Nacionais, e que nenhuma irregularidade foi constatada no processo, exceto o fato de que o povo não queria alugar o país por ninharia, claro. Terminou sua entrevista, entretanto, com um profundo toque de ingratidão: após ter negado sua amizade com Chávez, negou também sua amizade com Bushy: disse que gostava mais do Clinton!

Ora, muito embora, num profundo gesto de amizade e excelência em diplomacia, tenha outrora tentado aproximar esses seus dois grandes amigos, Chávez e Bush, FHC agora renega a ambos! FHC vai a Washington apoiar a ALCA mas é Lula, que jogou a pá de cal sobre a mesma e ainda serviu carne com febre aftosa matogrossense para o Bush, o acusado de lamber-lhe as botas...

Estamos todos insatisfeitos com a fragilidade do processo político brasileiro, sua ex-excelência, mas não somos tão estúpidos quanto quando o senhor nos deixou, há dois anos e meio atrás!