Tuesday, November 28, 2006

O Relógio

Paulo Soledade & Vinicius de Moraes

Passa tempo, tic-tac
Tic-tac, passa hora
Chega logo, tic-tac
Tic-tac, vai-te embora
Passa, tempo
Bem depressa
Não atrasa
Não demora
Que já estou
Muito cansado
E já perdi toda alegria
De fazer meu tic-tac
Dia e noite
Noite e dia
Tic-tac
Tic-tac
Dia e noite
Noite e dia

Monday, November 13, 2006

Próximo do caos, mas nem tanto

Tive pesadelos durante três dias. Objetos em formato de lâmpadas me rodeavam o tempo todo. Mas não aconteceu por acaso, e, eu juro, faz algum sentido. Tudo começou com alguns experimentos que começaram a surpreender, negativamente.

Se você está perdido, e não possui um telefone celular ou um aparelho de posicionamento global disponíveis, o máximo que pode fazer é tentar estabelecer um referencial em relação a si mesmo, de forma que, depois de andar cinco quilômetros, saberá que está, a cinco quilômetros, digamos, norte, ou morro acima, ou descendo o rio, em relação à sua posição inicial.

Melhor que nada, pois nesse caso você tem certeza de que, ainda que não tenha encontrado nenhum referencial novo, não está mais perdido que antes.

Essa é mais ou menos a situação de um cientista quando encontra algo novo: o momento da descoberta é também o momento em que ele se perde. A partir dali não existe mais estrada, terrenos jamais pisados. Há momentos em que a experiência é como "um farol para trás", e pode acabar dificultando o progresso, mas em muitas situações ajudará a decidir, ao menos, quais caminhos não tomar.

Um dos caminhos que esses perdidos sabem que jamais devem tomar é justamente perder o único referencial que possuem quando se perceberam perdidos: os dados iniciais, e o trilho de migalhas que os acompanha até a atual localização, seja onde for. Esse é o pequeno mapa de um mundo novo, que ninguém sabe onde efetivamente fica. Ainda.

Perdi o rastro inicial. As migalhas foram arrastadas pelo vento, e o caminho, quando voltei, era diferente! Um efeito extraordinário passou a ser somente um significativo aumento, e então foi rebaixado a uma indicação.

Eis o caos. É como se a lanterna e a bússola parassem de funcionar, a água do cantil acabasse e começasse a chover.

Começamos a fazer essas perguntas que só aparecem quando tudo está errado, mas nada faz sentido. "Embora nunca tivessem sido submetidas ao agente, as culturas se tornaram resistentes". Causalidade é ilusão? Enfim, me provam que nada faz sentido? Ainda não. Os olhos não viram o efeito microscópico da evolução. Após cinquenta anos desde a primeira vez que foram isoladas, as culturas voltaram a produzir esporos, quando as células assumem esse curioso formato "lampadóide".

Terminará como uma linha a mais num artigo que alguém, talvez meus pais, haverá de ler: A reprodutibilidade dos resultados pode ser comprometida caso culturas em fase estacionária sejam usadas como inóculo.

Em palavras, se perde
O mistério da criação
Em evolução.