Wednesday, November 21, 2007

Dólar e CCG

O presidente da Venezuela, Hugo Cháves, e o Iraniano, Ahmadinejad, não obtiveram êxito em sua proposição na OPEP de desatrelar o preço do pretróleo do dólar. Disseram que o Rei Abdullah fez as vezes do Rei espanhol. A Arábia Saudita é o único país com capacidade de aumentar significativamente sua produção diária de petróleo, o que dá a eles o poder de "minar" seus competidores, em caso de desentendimentos dentro da OPEP. Conseqüentemente, todos, não só Chávez, se calaram.

Mas a mesma Arábia Saudita pode não ter tanto poder dentro do Conselho de Cooperação do Golfo Pérsico (CCG), e todos eles estão insatisfeitos com a importação de inflação através do câmbio. A CCG possui moeda atrelada ao dólar e com a desvalorização deste as importações da Europa se tornam cada vez mais caras. Por isso, Kwait desdolarizou sua economia desde Março, e na próxima reunião da CCG em janeiro pode ser seguido por outros membros do tratado (que também inclui Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Omã, Bahrein e Qatar).

Hoje mesmo o presidente do Banco Central dos EUA, Bernanke, estava com essa conversa mole de que a economia deve crescer 1.8 e não 2.5% no ano que vem, que está tudo muito devagar. Ou seja, vai cortar is juros de novo, atualmente em 4.5%. Um pouco mais de lenha na fogueira da inflação: mais o dólar vai cair.

Só uma curiosidade, veja no gráfico abaixo como a relação dólar/euro (hoje em 1.48 - recorde histórico) acompanha perfeitamente a alta do petróleo (hoje em US$98, também recorde histórico).



Quando fiz esse gráfico, semana passada, não conseguia entender o que prendia esses dois fatores. Mas hoje parece que essa tendência pode ser devida, ao menos em parte, ao fato de que a OPEP vende petróleo para os EUA (dentre outros) mas suas importações vêem em grande parte da zona do Euro e não dos EUA. Mas para verificar essa hipótese, temos que analisar as balanças comerciais e as vendas totais de petróleo desses países, o que fica para amanhã ou depois.

Monday, November 19, 2007

Será que o Brasil se afogará no Petróleo?

Quando ouvimos que o valor do petróleo chegará a 100 dólares o barril logo (talvez amanhã, ou ano que vem, segundo "especialistas"), pensamos que tem ocorrido uma super-valorização do mesmo. Discordo, em parte. Para ser mais exato, discordo em 70%. Uma grande fatia dessa alta é uma desvalorização do dinheiro, e valorização de bens mais seguros, como ouro, diamantes, e, de forma inovadora, petróleo, pois hoje qualquer um pode comprar petróleo no mercado futuro, ou seja, investir em petróleo. Tal fenômeno é comum em tempos de incerteza ou crise econômica.

Dê uma olhada no valor do ouro: de janeiro de 2005 a novembro de 2007 o preço de uma libra de ouro saltou de 450 para 850 dólares. Enquanto isso, o preço do petróleo pulou de 33 para os atuais 95 dólares por barril. Trocando em miúdos, o preço do petróleo, em ouro, aumentou 54% nos últimos três anos, o que é bem menos assustador que os aparentes 290% em dólar. A pergunta que ainda não entendo é porque os exportadores de petróleo ainda aceitam dólares como forma de pagamento, é como trocar milho por galinhas doentes... Trocando em miúdos, em termos financeiros, todo esse circo em torno da escassez de combustível é muito mais uma crise de confiança na economia do que uma crise energética em si.

Obs. No fundo, minha opinião de filósofo de inutilidades é que a nossa crise é uma crise ética, mas deixa isso para lá.

Assim, se você recebesse seu salário em ouro, estaria muito menos preocupado com o problema, e possivelmente acharia mesmo possível que a economia mundial entre em colapso por falta de confiança antes de o petróleo acabar. Agora, se você recebe seu salário em dólar, estaria sentindo a pressão no bolso, o seu nível de vida cair, e cada vez mais a necessidade de comprar produtos importados, de qualidade inferior. Mas se você PAGA o seu funcionário em dólar você está morrendo de medo que ele vai parar de aceitar o pagamento em papel sem valor (assim como Saddam Hussein fez, que disse que iria parar de aceitar pagamento de petróleo em dólar, veja no que deu). Para evitar isso, você vai dizer que a culpa é do petróleo, dos terroristas afegãos, do doido do Chávez...

* * *

No New York Times de hoje, lê-se que o Brasil aprendeu a usar petróleo como instrumento político, como se não soubéssemos antes! Só não usávamos esse poder porque não tínhamos. Na Folha, o ministro Nelson Hubner ressalta que o Brasil não tem pressa em licitar o Tupi, ou seja, nós vamos sim leiloar nossos direitos a essas reservas, mas ainda não sabemos quanto elas valem... é bom ter cautela. Historicamente, o petróleo não trouxe desenvolvimento para nenhuma nação. Enriqueceu sim muitos países e seus príncipes (que compram aviões A380 para uso pessoal), mas para o povo trouxe guerras, violência, fome, miséria. Talvez o que hoje parece uma dádiva pode vir a ser uma desgraça. Só depende de nós.

Dólares não são, necessariamente, livros, remédio, comida. Talvez pudéssemos trocar petróleo não por dólares, inflação, e corrupção, mas por ouro social: hospitais, estradas, escolas, moradias, universidades.

É tempo de rever nossos valores.

Monday, November 12, 2007

Kátia Abreu quer crescimento a qualquer custo

A senadora Kátia Abreu lerá hoje, de acordo com a Folha, um relatório que mostra que o país cresceria mais 0.4% se a CPMF fosse abolida.

Faz sentido, e pode ser verdade, mas ela deveria mencionar também que se fecharmos a Polícia Federal, o país crescerá outro 1%.

E se demitirmos todos os fiscais da Receita Federal o PIB crescerá mais 1%.

E se acabarmos com a Previdência Social e a CLT? Bom, aí cresceríamos tanto quanto a China, e teríamos um novo bilionário a cada semana.

Todos concordamos que a carga tributária é elevada e mal-utilizada. Entretanto, uma análise responsável do problema se basearia num levantamento de quais são os piores impostos, os que são mais propensos à sonegação, que estimulam a corrupção, ou que mais facilmente são desviados.

A CPMF não está sendo debatida, não há discussão quando ninguém está disposto a ouvir. Todos já têm sua opinião formada, e ninguém parece realmente se importar com o imposto em si, mas sim com os resultados políticos que esse embate pode gerar.

Culpa, em última análise, de nós, o povo, que se deixa ser representado por deputados e senadores que só conseguem analisar um fator, e não o problema como um todo.

A diferença entre esses distintos senhores que habitam o Planalto parece estar na razão pela qual não discutem todos os fatos: há aqueles que realmente só conseguem enxergar um palmo à frente do nariz, sendo, portanto, estúpidos; há aqueles que sabem que estão ocultando parte da verdade, sendo, assim, desonestos; e dentre esses há aqueles que o fazem por interesses próprios, os corruptos caras-de-pau.

É uma pena que os candidatos que poderiam nos brindar com uma discussão séria, completa e honesta, não foram eleitos ou não aparecem na TV.