Wednesday, December 14, 2005

Dívida

Bem dizem os antigos que "papel aceita tudo". Significam que pode-se escrever qualquer besteira numa folha de papel, e nada será rejeitado. Talvez um ou outro leitor vá perceber os absurdos ali escritos, mas a verdade é que muitas vezes tomamos o que escrito por válido, e engolimos muita besteira.

Ontem fiquei realmente satisfeito ao ver as notícias sobre o pagamento feito pelo Brasil ao FMI, que quitava nossos débitos com essa instituição, e ainda nos poupa quase um bilhão de dólares que seriam gastos em juros. Hoje fico estarrecido com a enquete no JB: “O Brasil faz bem em pagar a dívida?”. No estadão (jornalzinho medíocre esse...) somente críticas, como de sempre. Também, que se pode esperar de um jornal que sequer consegue escrever em bom português? A cada três reportagens há um parágrafo inteiramente incompreensível. Acho que nunca revisam seus textos... se revisassem, certamente removeriam mais de dois terços dos artigos do ar, erros de concepção.

Nas Minas Gerais aprendemos que o homem trabalha primeiramente por suas dívidas. Tem até a expressão: “Nem ligo, não devo nada a ninguém” Curiosamente essa está caindo muito em desuso nesses últimos tempos... Por essas e outras me senti muito feliz ao ver estampada na capa do Jornal do Brasil a notícia: “Lula zera a dívida com FMI”.

Em toda a minha vida de brasileiro de carterinha, sempre ouvi noticias diferentes em relação à dívida externa, sempre falando de aumentos, elevação dos juros, rolagem, novos empréstimos. De tanto ver o Brasil se endividando e a televisão fazendo propaganda disso ficava mesmo me perguntando se teríamos que devolver esse dinheiro, que parecia tão fácil.

A resposta era: sim, dívida é dívida. Mas só agora o conceito é respeitado. Acredito que toda a nação brasileira era influenciada por essa orgia financiera, de, no final do mandato, pegar mais dinheiro, financiar aumento do salário mínimo, cestas básicas, vale-gás e afins, para ajudar o partido na eleição. O governo seguinte (talvez reeleito) simplesmente rolava a dívida para o próximo e assim por diante. A bola de neve tinha que ser contida, e é isso que estamos fazendo, e me sinto mais leve. Se nem o governo paga suas dívidas, por que eu pagaria?

Meu pai costumava comentar sobre a grande virada na vida do indivíduo quando ele começa a pagar suas dívidas. Não importa se paga tudo de uma vez ou um real por mês, o que realmente importa é quando se atinge o fundo e começa-se a subir. O Brasil chegou nesse ponto, e a subida é brusca: 15 bilhões de dólares numa raquetada só. Imagino os políticos profissionais se perguntando o porquê disso. Realmente não faz sentido nenhum: o governo sofrendo pressões de todos os lados, popularidade caindo, e o sapo barbudo, ou o nordestino do pau-de-arara, resolve pagar dívida! Desde quando pagamento de dívida aumenta IBOPE? Pois é, esses acabaram por acreditar na história que eles mesmo inventaram, de que esse governo é igual aos outros. Ledo engano, essa é a melhor administração que esse país já teve, é uma pena que somente 43% da população consiga ver isso...

Fico imaginando o impacto que isso tem sobre os garotos que estarão assistindo do Jornal Nacional essa noite. Entenderão que não se pode gastar mais do que se tem, perceberão que não se faz ceia com dinheiro alheio, coisas que eu tive que aprender em casa, porque se dependesse do exemplo de meus governantes, estaria cada vez mais endividado...

A palavra ensina, somente o espírito vivifica.

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