Não atira em sim e encerra o assunto
Para quem não leu o Estatuto do Desarmamento antes de votar, ou leu e não entendeu, poderia ter analisado um fato ocorrido em minha cidade natal, Juiz de Fora-MG, antes de tomar suas conclusões. Quando duas pessoas a favor do Estatuto do Desarmamento discutiam sobre o assunto, uma terceira pessoa que sequer participava da conversa entrou na discussão com seu palpite calibre 38.
Entender o contra-senso das reportagens de hoje sobre o resultado do referendo não é tarefa fácil. O referendo, que deveria ser um instrumento democrático, foi usado como instrumento político para atacar o governo. A vitória do "não", segundo o Jornal do Brasil, mostra que o povo está insatisfeito com a forma como o governo lida com a violência. O Estadao diz que o "não" é uma indicação da insatisfação da população com a política de segurança. Com isso colocam o peso da derrota nas costas do governo, essa não-criatura vista de longe à época das eleições.
A familia Garotinho, que apóia o desarmamento quase que por obrigação (claro, imagina, no Rio, como poderiam ter posição diferente?) ainda acharam uma brecha para atacar o governo: o governo tinha que ter tomado uma posição, ao invés de consultar a população, diz o garotinho. Pelo jeito, ainda não se convenceu da eficácia da democracia. Mas ele é criança, tem tempo para aprender ainda. Espero que durante sua adolescência entenda que o governo (o Poder Executivo) a que ele se refere não colocou a aprovação do Estatuto à mercê de um referendo, mas sim o Congresso Nacional.
Bom, o assunto está encerrado. Ainda será possível comprar armas no Calçadão de minha cidade. A bancada ruralista também poderá se armar para combater os Sem-Terra. Os bandidos nem se importam mesmo, eles não se preocupam muito com Leis. Esse resultado preocupa a mim, entretanto. Lembro-me uma vez, aos onze anos, quando perguntei a meu pai como podiam fabricar um automóvel que ia a 180km/h se o limite era de 80. Sua resposta foi uma introdução aos grandes paradoxos de nossa sociedade. Não sei o que vamos dizer aos nossos filhos quando nos perguntarem porque simplesmente não paramos de permitir a venda de armas, se reclamamos da violência. Os pais que votaram no "não" terão de inventar uma boa história, e aqui já adianto: a versão usada por meu pai eles não poderão usar.
O Brasil divide com a Venezuela a primeira posição mundial em número de mortes por agressões com armas de fogo, a maior causa de mortes no país, enquanto violentos americanos, morrem de câncer e ataque cardíaco.
Assim, temos razões para celebrar, somos campeões novamente! Após o fim de semana de final de Campeonato, Não venceu sem dificuldades. Teve até briga de torcida. Diga-se de passagem, o Sim não morreu mas o Não foi para a cadeia, preso em flagrante.
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