Thursday, August 06, 2015

Suspenso no ar

Estou em um avião, que após uma subida contínua, desligou os motores e ficou suspenso no ar. Silenciosamente contornamos o topo de uma montanha invisível, na iminência de começar uma nova trajetória, mas com a impressão que o próprio tempo parou. Passageiro, refém da física, experimento a gravidade zero a levitar meu coração... o estômago parece vir à boca, e medo, ansiedade, alegria, tristeza e remorso, tudo se mistura. O próximo minuto pode mudar tudo. Enfim me pergunto, quantos minutos foram assim tão determinantes? Talvez todos?

Thursday, November 29, 2012

Durante dois anos de meu doutorado eu trabalhei numa espécie de "centro de vivência" para estudantes de pós-graduação da universidade, o Big Red Barn. Todos os dias antes do almoço eu deixava minha bancada, a tela do computador e descia do Wing Hall, passava pela biblioteca, desviava um pouco para baixo, passando pelos caminhos que levavam até as plantations e em menos de dez minutos (uns 12 no inverno) eu estava lá para contar o dinheiro do caixa e preparar os materiais para os demais colaboradores trabalharem na tarde.

Algumas vezes passava algum tempo conversando com minha chefe, que hoje percebo, foi também orientadora em muitos aspectos de minha vida acadêmica. Ordinariamente, saía do Big Red Barn em menos de uma hora, voltava para o laboratório, normalmente subindo pela Tower Road, vendo o movimento dos estudantes saindo das aulas.

Fiz isso muitas vezes, em todas as estações do ano. E hoje percebo o quanto eu apreciava aquela caminhada no meio do dia. Eram apenas poucos minutos de total desligamento dos problemas que o doutorado me impunha, alguns bastante desafiadores à época. Quando me inscrevi para o trabalho, estava buscando uma forma de interagir com a comunidade mas, principalmente, fazer um dinheiro extra. Consegui muito mais que isso.

Monday, October 17, 2011

Os culpados ainda não foram punidos

De um administrador, defendendo que os culpados pela crise econômica já foram punidos:

"Capitalistas que tinham casas milionárias, perderam 40% do valor de suas casas.

O trabalhador, o expoliado trabalhador, viu o nivel de desemprego subir de 6% para 9,1%, ou seja 3% perderam o emprego, bem diferente dos 100% que perderam 50% do seu capital." (Grifo do autor)

Realmente não consigo entender o que se passa na cabeça de alguém que compara "perda no valor de sua casa" a "perda no nível de emprego".

Certamente não pensa na possibilidade de ser uma das milhões de pessoas que compõe os 3% de desempregados.

E certamente não compreende que a desvalorização da casa em que você mora não te afeta em absolutamente nada, até o dia em que você perder seu emprego e tiver que mudar.


Sunday, January 16, 2011

Crise

Qual é o tamanho da crise necessária para estimular mudança em uma sociedade?

Vamos continuar a culpar uns aos outros, nos agarrando aos mais convenientes argumentos, ou vamos aprender a ouvir, a buscar os erros, assumir erros, assumir responsabilidades?

Quantos de nós precisamos morrer soterrados para que o desastre seja importante o suficiente?

Não estávamos preparados para a tragédia dessa semana na região serrana do Rio. Não estávamos preparados, ponto final. E não estamos preparados para milhares de outras tragédias prontas a acontecer. Talvez ainda essa noite mais um deslizamento ocorrerá, e soterrará uma dezena de casas em Juiz de Fora. Talvez os três rios que passam pela cidade que leva esse nome inundarão a mesma novamente amanhã. Talvez a ponte da BR-040 que passa pela cidade de Conselheiro Lafaiete cairá amanhã (espero que não seja no momento em que eu, ou qualquer outra pessoa, esteja sobre ela).

A lista de desastres prontos para ocorrer pode encher um livro, ou vários. Temos que mudar nossa sociedade e começar a agir, ao invés de lamentar. Talvez pudéssemos criar um blog dos desastres por ocorrer. Seria interessante eventualmente ver alguns desses serem evitados, e talvez servisse de alerta para a sociedade quando algum deles realmente acontecer.

Sobre o Carnaval: não será difícil manter o carnaval do Rio deste ano, não obstantes as mortes ocorridas nesta semana e as outroas que ainda, infelizmente, decorrerão dessa catástrofe. A desculpa deverá ser algo em torno de que os brasileiros não se deixam abalar, brasileiros não desistem nunca. Morremos hoje, celebramos amanhã, epítome do individualismo que domina cada vez mais claramente nossa sociedade.

E, para terminar, desde já fica minha previsão: gastaremos muito mais com o carnaval do que com o resgate dos atingidos pelas chuvas em Teresópolis e cidades vizinhas. Espero que consiga ajuntar os números para escrever sobre isso mês que vem.

Tuesday, January 11, 2011

Marx e Hitler

"Jared Loughner, 22 anos, o atirador do Arizona, tem problemas psicológicos. Era também um fanático por teses extremistas – em sua casa, a polícia encontrou livros de Karl Marx e Adolph Hitler".
Jornal do Brasil, 11/01/2011

Sobrou até para Karl Marx...

Thursday, September 23, 2010

O jeitinho brasileiro...

Retornar ao Brasil tem sido muito mais difícil que eu poderia ter imaginado. O choque de ver que o Brasil que eu idealizava não existe é muito grande. O maior desafio é redesenhar as expectativas (não esperar muito é melhor) e planos... nosso país parece viver num momento de crescimento exponencial, quem diria, do individualismo, onde as classes mais baixas vão comprando a prestações seu ingresso para a classe média, como toda a arrogância e mediocridade que o título inclui.

É difícil conviver no trânsito, é difícil fazer negócios, é difícil depender dos serviços... em tudo todos querem levar um pouco mais de vantagem que o outro, e todos acham que têm a preferência. Da mesma forma que todos acham que dirigem muito bem, o dono da casa que eu alugo se gaba de sempre fazer as coisas "muito certinhas", e me liga no final do ano perguntar se eu pretendo declarar o valor que eu pago de aluguel. "Se um declara, o outro tem que declarar também, para ficar tudo certinho".

Aterrisei dentro da instituição pública, para não ficar dúvidas de que realmente estamos falando de um GRANDE CHOQUE. Lá fica evidente que a única forma de se sobrevivier além dos 45 anos de idade é diminuir as expectativas, aceitar a falta de profissionalismo, falta de ética, falta de competência como fases passageiras da construção de alguma coisa grandiosa. E estamos todos nesse barco, onde não sabemos se devemos astear as nossas bandeiras ou não...

Wednesday, June 10, 2009

Fome zero para a classe média

"A minha posição é de que nós precisamos transformar isso(redução do IPI sobre automóveis) em uma política permanente"

Talvez o presidente Lula tenha opinião diferente, mas sua idéia de manter a economia brasileira viva através da redução do IPI sobre automóveis é das ações mais contrárias ao interesse (declarado) de combater o consumismo, estimular o desenvolvimento sustentável e combater emissão de poluentes. Carros mais baratos, entretanto, podem trazer um pouco de otimismo à classe média brasileira, que não tira proveito direto do fome zero.

Fora isso, carros mais baratos nos trarão mais congestionamentos, mais dinheiro irá para as matrizes das multinacionais que montam esses automóveis no Brasil, e estaremos recebendo menos por isso. Enquanto isso, laboratórios brasileiros precisam pagar as maiores taxas do mundo sobre equipamentos e insumos para experimentos científicos, para citar somente um exemplo de taxação do desenvolvimento que me é familiar.

Essa é somente mais uma das faces de nosso instinto de colônia. Somos colônia desde 1500, e somente mudamos de "matriz". E com essa mentalidade, 2500 chegará, quando, talvez, estejamos nos lembrando do tempo que éramos colônia chinesa....

Que fique claro, entretanto: não culpo o presidente, se essa política lhe rende votos, problema nosso.