Fed muito por aqui
Eu me enganava quando pensava que poderia aprender sobre economia lendo as notíciais diárias sobre o assunto, enquanto procurava em artigos especializados entender os fundamentos. Essa estratégia não funciona, pois as notícias não têm o mínimo respeito por fundamento algum. Outro erro foi pensar que os fundamentos da economia tinham base na lógica matemática. Ledo erro: a base da economia é a psicologia de massas.
Ontem o Fed cortou a taxa de juros em 0.75 pontos, para 2.25%aa. A inflação oficial é de menos de 4%, o que significa que os juros reais são negativos, na casa de quase -2%aa. Ou seja, há um estímulo de 2% ao ano para que se pegue dinheiro emprestado.
O resultado da atuação do Fed na bolsa foi estrondoso, ao menos ontem. Com mais dinheiro disponível no mercado, a bolsa de valores de NY subiu impressionantes 4%. A imprensa regozija-se na glória ao Deus do Capital. Hoje pela manhã, começam a vir notícias menos animadoras. O mercado acorda recalcitrante: após refletir sobre o assunto durante a noite, investidores já estão menos dispostos a apostar. No Washington Post, alguém levanta a questão: E se o Fed falhar? Bom, se falhar, aí danou tudo. Mas a resposta é que o Federal Reserve tem falhado. Nos últimos 6 meses estão usando de todas as cartas que têm nas mangas, e a economia continua indo para o ralo. Hoje o mercado vai voltar a cair, provavelmente não 4%, mas cairá. E alguém vai procurar achar uma razão, como as enchentes no Sul dos EUA, guerra no Iraque, instabilidade na Venezuela, reservas de gasolina baixas... o de sempre. Mas não importa por que o vento mudou, importa? Ajuste as velas. E reze para não parar de ventar.
O fato é que somente no mercado imobiliário perderam-se uns 2 trilhões de dólares. Como ninguém quer pagar essa conta, quem não conseguir pagar a prestação da sua casa e os impostos de propriedade (altíssimos por aqui, e merecerão um artigo depois) começarão a colocar suas propriedades à venda. Com a alta demanda a desvalorização então vai passar de 2 para sabe-se lá quantos trilhões de dólares. O Fed não tem como bancar isso. Todo mundo vê esse cenário, mas as consequências seriam tão catastróficas que ninguém quer acreditar. Mas, como eu disse, penso que o que manda na economia é a psicologia de massa, a alma humana, esse enigma. A crise só passará quando a população mudar de atitude, reavaliar seus valores, resgatar seus princípios morais, corroídos pela cultura do topa-tudo-por-dinheiro, fomentada pela aristocracia dominante. É preciso um líder que não está disponível no momento, eles não têm um Lula, um Kennedy; têm o Bush.
Têm Obama também, mas ele vai demorar a chegar. Se chegar. Ele pode falar com os únicos que podem sustentar a mudança (como o Kennedy fazia todas as manhãs), a parte mais afetada da população: não só em média mais pobre, mas também em média de pele mais escura, mais obesa, menos instruída, que trabalha em média, muito mais e que paga, em média, a maior parte da conta embora receba, em média, muito menos. Quanto mais sofrimento será necessário para causar a necessária mudança de paradigmas?
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