Thursday, March 13, 2008

Dívida interna I - A república de bananas

Tenho a impressão atualmente que a economia não é nem mesmo uma ciência em si, mas uma especialidade da psicologia de massas. Talvez por isso mesmo, embora leigo, não me envergonhe ao tentar entender os mecanismos por trás do mundo das finanças. Na verdade, aproveito-me do fato que ninguém me chamará de especialista para falar todas as besteiras que me parecem sensatas.

Sendo assim, por que me limitaria a falar de coisas simples? Vou explorar a dívida interna brasileira. Esse assunto na verdade, me parece bastante seguro: poucos poderiam dizer que estou errado, já que nem mesmo os especialistas no assunto parecem concordar em torno dos detalhes mais básicos. Alguém poderia sugerir que todos concordariam que dever é ruim, mas mesmo nesse ponto há controvérsias, e é justamente em torno dessa idéia que abordo o assunto.


Recentemente (e pela segunda vez, se não me falha a memória) o governo comemorou que passamos finalmente a ser credores externos, ou seja, nossas reservas são maiores que nossa dívida externa. Como conseguimos alcançar esse patamar mágico? Como a dívida externa é cotada em moeda estrangeira (leia-se dólares) temos duas formas de acumular recursos para pagá-la: através da venda de produtos a outros paises e compra de dólares no mercado financeiro ou através da venda de títulos em reais para investidores estrangeiros.

O Brasil, essa muito bem comportada colônia, é primariamente exportador de bens primários, que hoje ganharam o sofisticado apelido de commodities, ou seja, minérios, milho, soja, petróleo, dentre outros. Aqui, para honrar nossa língua e tradição tupiniquim, continuaremos a chamar esse grupo de produtos cujos preços são determinados no mercado financeiro mundial de bananas. Sendo assim, continuamos a ser uma república de bananas, o que é melhor que nos tornar uma nação de acomodados, em minha humilde opinião.

Mas o fato é que o preço da banana tem aumentado muito, principalmente devido à alta demanda (desde que experimentaram banana, os chineses não pensam outra coisa) e a desvalorização do dólar. A apreciação do Real possibilita também que o governo emita títulos denominados em reais, ou seja, o governo vende notas de 100 reais pela bagatela de 50 dólares. Mas o detalhe é que essas “notas” só serão transformadas em dinheiro de verdade daqui a dez anos. O investidor, portanto, está apostando que mais valem 100 reais amanhã do que 50 dólares hoje. O governo está contando que o investidor vai se empenhar para que isso se torne realidade...

Os recursos gerados com a venda de bananas e a venda de títulos possibilita ao governo conter um pouco a queda do dólar no mercado interno, comprando a divisa que passa a fazer parte de nossas reservas internacionais. Dessa forma, ao menos em um certo nível, estamos trocando uma dívida por outra, ou seja, uma dívida em dólares por uma dívida em reais. Será que isso faz sentido? Ora, os juros em dólares são menores, e o dólar está em queda-livre. Qual é a vantagem dessa transação para o Brasil? Embora não seja tão evidente, minha hipótese é de que há grandes vantagens. Tentarei justificar essa idéia nessa série de artigos que dedico ao meu fiel companheiro, Sancho Pança.

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