Dívida Interna II – A fantástica fábrica de moedas de chocolate
Primeiramente, vamos definir algumas variáveis em nossa análise, enfatizando obviamente naquelas que diferenciam a dívida externa da dívida interna. Talvez mais importante, a dívida interna aumenta com a valorização do real, enquanto a externa diminui. Isso pode parecer ruim, pois todos hoje, enfim!, percebem a trajetória de queda do dólar. Entretanto, a eliminação da dívida externa, mesmo que com o aumento do endividamento interno pode estar sendo justamente o que faz com que a Bovespa esteja operando em índices recorde, enquanto as bolsas mundiais amargam uma média de 15% de perdas no último semestre.
Essa hipótese explicaria, por exemplo, por que o governo fez tantas operações para "trocar" a dívida externa pela interna, ou seja, pagamos o que devíamos em dólar mas devemos em Reais, embora nossas taxas nominais de juros (internas) sejam maiores que aquelas cobradas no exterior.
Então chegamos à famigerada taxa de juros. A dívida interna é um argumento muito grande que mostra o interesse do governo em baixar os juros internos. Imagine quanto o país não economiza toda vez que o BC reduz a Selic em .25% aa. Me parece um argumento e tanto!
Comparo essa dívida aos custos da guerra no Iraque aos cofres estadunidenses. Essa guerra é financiada com papel, não é dinheiro de verdade. De verdade é esse dinheiro que eu e você ganhamos, ao menos de vez em quando, que poderia muito bem ser substituído por "horas trabalhadas". (Exemplo: para comprar um sapato novo, eu preciso trabalhar 45 minutos.) A guerra é paga pelo governo com dólares que são "impressos", dados à Halliburton e Lockheed Martin em troca de tanques e caças, e como pagamento de milhões de pessoas envolvidas no complexo militar-industrial. As forças armadas também recebem uma pilha de notas para contratar mais soldados, ao ponto desses aliciadores de menores serem vistos em todo “Shopping Mall” domingos à tarde. Não podemos deixar de mencionar a Blackwater, que contrata seus mercenários ao custo mínimo de 60 mil dólares ao ano; e assim faz-se a guerra.
Todo esse dinheiro é todo, ou quase todo, gasto dentro do país, mantendo essa máquina se movendo, cada vez mais rápido. Reparou por que não compram armamentos da China ou Indonésia? Vista dessa forma, a invasão do Iraque foi o primeiro pacote de estímulo econômico, agora seguido pelo envio de 150 bilhões de dólares-papel como presente (literalmente) para os cidadãos estadunidenses.
Quando o governo brasileiro contrata uma empresa para construir digamos, uma, universidade (permita-me a luxúria do exemplo), esse contrato passa a ser parte da dívida pública até que o valor total do contrato seja pago. Esse dinheiro, portanto, gerará empregos dentro do país durante a construção, empregos depois que a Universidade ficar pronta, a obra traz os benefícios esperados para a sociedade e, por fim, temos uma dívida em Reais, com as vantagens e desvantagens que discutimos acima. Esses recursos gerados internamente, como os empregos, a capacitação profissional, todos contribuem para o aumento da capacidade de pagamento do país, e devem ser descontados dos juros previstos no contrato inicial.
Essa característica, entretanto, é comum a qualquer investimento feito pelo governo, independente de quem estar emprestando ser uma empresa nacional ou um banco suíço. A diferença ocorre na hora do pagamento. Quando o governo paga sua dívida externa ocorre uma redução de moeda estrangeira no mercado, e o valor do real é corroído. Isso não ocorre quando a dívida é paga em reais, obviamente, mas essa não é a única vantagem. O pagamento do contrato à empresa brasileira, que seja um banco, é parte do produto interno bruto, que é o ponto crítico de controle da saúde da economia. Esses recursos permanecem no país e aqui gerarão mais dividendos, em reais.
A linha que conecta todos esses exemplos é simples: produzir valor e imprimir papel são duas coisas completamente diferentes. Guerras e investimentos em infra-estrutura interna foram e serão usados como forma de produzir valor, ou seja, uma maneira de dar “sustança” ao dinheiro impresso. Óbvio? Sim claro... mas por alguma razão, não é o que parece quando os especialistas aparecem na televisão falando do aumento do endividamento interno! Por que não comparam o endividamento à redução na taxa de desemprego, aumento do valor do real, redução da inflação? Simplesmente criticar o endividamento interno, sem analisar a situação econômica globalmente é, enfim, inútil. É como dizer que dever 200 milhões de dólares é muito. Ora! Mas se você adquiriu essa dívida para comprar um prédio que vale 1 bilhão, e usou como garantia de pagamento dívidas que pessoas desempregadas têm contigo, o negócio já não parece tão ruim...
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