Wednesday, September 12, 2007

Notícias da crise

Ao meio-dia de hoje, enquanto saboreio meu almoço frugal, abri a página da Gazeta Mercantil, e essas são as notícias da última hora:

* 11:32 Fator de compra fecha em 3,94% ao mês
* 11:31 Renan chega ao Senado sem falar com a imprensa
* 11:31 Vale busca parceria com a Shell em petróleo e gás
* 10:53 WTI opera em alta de 0,4%, a US$ 78,53
* 10:53 Conta garantida tem custo mínimo de 2,35% ao mês
* 10:52 Formação bruta de capital fixo cresceu 3,2%
* 10:48 Dow Jones cai 0,12% e Nasdaq recua 0,13%
* 10:47 CDB para 33 dias está em 10,60% ao ano
* 10:47 Bovespa sobe 0,26%, a 54.060 pontos
* 10:33 Projeções apontam ligeira queda na BM&F
* 09:55 Dólar sobe 0,10% e abre vendido a R$ 1,927
* 09:54 Taxas de juros apontam estabilidade, diz Procon
* 09:51 CDI abre com tomadores a 11,12% ao ano
* 09:49 Cai custo da construção, aponta FGV

Vou deixar esse circo montado para o Renan Calheiros de lado e comentar somente uns detalhes das notícias de economia.

Até há menos de dez anos atrás, era corrente ouvir-se dizer que um espirro na bolsa de NY era suficiente para que o Bovespa pegasse pneumonia. Ainda hoje essa idéia prevalesce, mas os mesmos índices que mostravam a sensibilidade da economia brasileira hoje mostram que nosso sistema se fortaleceu muito. Veja que a Ibovespa opera em alta em dia de queda em NY. A queda de NY ocorre porque ninguém sabe se existiria dinheiro suficiente no mercado para pagar as ações que os investidores têm nas mãos. No mundo inteiro, todos estão de olho nas telas de seus computadores observando qual é a tendência do mercado, com o coração batendo na palma da mão, que treme sobre o mouse. Alguns estão decidindo não correr o risco de manter seus dólares investidos em companhias (principalmente instituições financeiras) e vender suas ações.

O problema é que quanto mais ações são vendidas mais o preço cai e o efeito dessa queda na decisão de outros investidores é que preocupa. Será que outros investidores vão achar que a queda no valor das ações é uma oportunidade de comprar mais ações, investir mais? Ou será que vão chegar à conclusão de que o melhor é pular na água antes que o navio afunde? Falamos recentemente em crise no mercado financeiro justamente porque há uma chance perigosamente grande de que muitos vão querer pular na água.

Em economês, uma linguagem cuidadosamente desenvolvida para se falar muito e dizer nada, esse fenômeno se chama aversão ao risco. Em cenários assim, investimentos de alto risco são muito afetados, como os empréstimos para pessoas físicas sem histórico de crédito nos EUA, ou investimentos em países instáveis, onde o governo pode mudar, um golpe de estado acontecer, ou a poupança ser confiscada, ou a inflação disparar e comer todos os lucros. Por conta disso o Brasil vivia com pneumonia.

Hoje, só para termos um exemplo, a bolsa de NY está em queda, Bovespa em alta. Entretanto a Bovespa ontem operava em queda, até que o resultado do desempenho da economia no trimestre foi divulgado: 5.4% no último ano. Ou seja, anote aí no seu caderninho: se o Brasil estiver crescendo na 5.4% ao ano, a Bovespa pode se manter 0.3% acima do Dow Jones. Nada de surpreendente, portanto, que o risco-país tenha caído quase 1% ontem, e pode cair mais uns 3 hoje.

Bom, isso são fatos momentâneos, não significam que gostamos das regras. Particulamente estou me lixando para a economia, Crescimento econômico não tem nada a ver com desenvolvimento, que é o que mais prezo. Mas o governo tem que se preocupar com isso, pois o Lula só foi eleito porque se comprometeu a não jogar a cartilha neoliberal presidencial no lixo. E esse cruzado de esquerda vai no queixo daqueles que criticam o governo atual porque o Lula teria traído seu discurso de eleições passadas. O Brasil teve 3 chances de votar no Lula presidente de sindicato de camisa vermelha suada, mas só o elegeu depois que ele vestiu um terno, e prometeu que seria amigo dos banqueiros e fazer um governo de alianças políticas! E mesmo nesse campo infértil da economia ele tem feito bonito, leia a sinopse das notícias acima para comprovar.

Entretanto, quem não estiver satisfeito, preferir o discurso radical, pode votar na Heloísa Helena, por exemplo. Mas se disser que está decepcionado, e por isso votou no Alkmin, serei obrigado a sorrir, concordar plenamente, e recomendar Veja e Jornal Nacional para garantir um sono tranquilo. Em seguida, com licença, tenho que ir ali...

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